Por Natalia Zimbrão
d5t40
11 de jun de 2025 às 10:31
“Nossa prática pastoral, que contempla pouca pregação e pouca catequese, não consegue inflamar nem sustentar a fé nos corações”, disse o arcebispo de São Paulo (SP), cardeal Odilo Pedro Scherer ao comentar os dados do Censo 2022 sobre religião no Brasil. Segundo o levantamento, apresentado na sexta-feira (6), o número de católicos caiu e o de evangélicos cresceu.
O Censo 2022 mostrou o número de católicos no Brasil é de 56,7%, uma queda de 8,4 pontos percentuais em relação a 2010. Os evangélicos aumentaram 5,2 pontos percentuais, chegando a 26,9% da população. Também houve aumento de 1,4 pontos percentuais dos que se declaram sem religião, chegando a 9,28%, e dos seguidores da umbanda e do candomblé, que são 1,05% da população.
Em artigo publicado hoje (11) no site do jornal O São Paulo, da arquidiocese, dom Odilo disse que os dados do Censo mostram “que o quadro religioso do Brasil está em constante evolução” e que “não há grandes novidades”. Mas, ressaltou a importância de olhar os detalhes ao fazer comparações.
Dom Odilo chamou atenção para o fato de a queda no número de católicos no Brasil entre os Censos de 2010 e 2022 ter menor intensidade do que o que vinha sendo observado nos levantamentos anteriores, assim como o crescimento dos evangélicos foi “com menor intensidade”. “O que se observa na prática pastoral”, disse, “é que já existe uma renovada procura da Igreja Católica por jovens e adultos e isso pode explicar por que a queda foi menor do que era esperado”.
O arcebispo, porém, afirmou que os dados do Censo colocam “algumas reflexões importantes” para a Igreja Católica. Segundo ele, os dados mostram algo que já se sabia, que “os católicos brasileiros, em sua imensa maioria, são apenas batizados, mas não frequentam a Igreja ou o fazem apenas raramente”.
“Isso faz pensar em uma religiosidade sem convicções formadas e superficial que, dia mais, dia menos, pode mudar, ser conquistada para outra religiosidade, ou ser abandonada de vez. Parece que é isso que está acontecendo: os católicos sem convicção formada e com fraco senso de pertencimento à Igreja vão deixando de ser católicos”, disse o arcebispo, ao ressaltar que, “por outro lado”, da parte da Igreja Católica, há uma prática pastoral” que não consegue “sustentar a fé nos corações”.
Receba as principais de ACI Digital por WhatsApp e Telegram q414
Está cada vez mais difícil ver notícias católicas nas redes sociais. Inscreva-se hoje mesmo em nossos canais gratuitos:
“Algo precisa ser revisto nesse sentido, favorecendo uma formação religiosa mais aprofundada e generalizada”, disse.
O arcebispo perguntou: “quando e onde teremos a possibilidade de formar o nosso povo católico, se continuamos tendo uma frequência baixíssima na Igreja?”. Segundo um estudo feito em 2023 em 34 países, no Brasil a frequência à missa dominical obrigatória é de 8%. Na arquidiocese de São Paulo, a situação ainda é pior. O sínodo arquidiocesano encerrado em 2023 revelou que a taxa de católicos que vão à missa de domingo é de cerca de 6%.
Em seu artigo, dom Odilo disse que há a “possibilidade” de falar com as “pessoas que vão à missa dominical ou frequentam outros momentos comunitários de nossas organizações eclesiais”, mas “para a imensa maioria anônima que não comparece nesses momentos, não há outras ocasiões para fazer isso”. Entretanto, disse, “é importante fazê-lo, pois a experiência religiosa acontece também nas relações interpessoais
O cardeal Scherer destacou que “não se trata de um campeonato, em que é preciso fazer de tudo para suplantar e vencer o outro”, Mas, disse, “não podemos ficar indiferentes quando um irmão católico deixa a Igreja ou abandona a fé. E não podemos esquecer que Jesus enviou os apóstolos ‘a todos os povos’, e não apenas a algumas pessoas”.
Para o arcebispo, “o empenho missionário para levar a Boa Nova a todos e para ajudar a todos a encontrarem ‘o caminho, a verdade e a vida’, não pode se acomodar por nenhum motivo”.
“Não nos cabe contabilizar os êxitos, pois a aceitação do Evangelho e a conversão dos corações acontece pela ação do Espírito Santo no diálogo da consciência de cada um. Mas a nossa parte precisa ser feita”, concluiu.
Natalia Zimbrão é formada em Jornalismo pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. É jornalista da ACI Digital desde 2015. Tem experiência anterior em revista, rádio e jornalismo on-line.